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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Infinito aprender

Quando na vida parece que não há mais nada a ser visto, notamos que apenas começamos a viver.

Giovana da Rocha

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Filha do Mar

Em passos largos andava sem rumo neste imenso Rio de Janeiro. Eu era vítima da vida, e quanto a isso nada podia fazer. Buscava um lugar que me fizesse ao menos por um tempo esquecer. Esquecer das mágoas, das pessoas, daquilo que me feria. Enquanto estava a correr, tropeçava e, muitas vezes caía. Com a voz rouca, fazia questão de gritar. Os gritos são a  libertação de uma alma infeliz. E esta não é uma noite qualquer. Eu quero e sei que é possível me libertar. Já é tarde e todos já se recolheram. Donas de casa estão tendo o descanso de um dia exaustivo. Os maridos recompõem energias para mais um dia de serviço. Os filhos, na certa, já dormiam desde bem antes. Eu e os sentimentos éramos os únicos. Um atormentado ser, a fúria, a revolta, o inconformismo. Situação como essa? Não, não é de se conformar. Por que deveria eu passar por isso? Me diga, gostaria de saber o porquê de tal sofrimento. Estou acorrentada e percebo que as chances estão cada vez mais escassas. Sou prisioneira de uma alma infeliz, insana, desesperada. Meu corpo, já sujo, veste uma velha e larga blusa de algodão, além de uma desbotada saia de chita. Os pés? Nada. É claro que não calçam nada. É preciso correr, fugir. Somente pés descalços se adaptam a isso. Dias? Meses? Há quanto tempo estou assim? Sem casa, de bolsos vazios, nada para comer. Há tanto venho sofrendo, que lembrar de mim mesma é raro. Acabo de notar que passo sede, fome. As pessoas só veem a si mesmas. Compaixão? O que é isso? O mundo é egoísta, sem fé. A esperança nada custará a morrer. É, não há mais nada a ser feito. O jeito é antecipar o que cedo ou tarde há de vir. É só caminhar um pouco mais, que será possível ouvir as marés. Lá encontrarei o meu conforto. Preocupo-me. Não sei se consigo chegar. As forças são poucas, os pés custam a andar. Sinto o peso da idade e de um corpo sem forças. Tento acreditar que pouco me falta para chegar em meu destino. Mar que refresca, meu berço querido! Ainda possuo esperança, sei que posso te encontrar. Mas, estás tão... longe. O coração cansa de bater. Minh'alma desiste de viver. Espera. Ouça, Mariana! As ondas, o mar. Corre! Só mais alguns passos e... Ah, areia carioca, és tão única. Acalma o corpo, tranquiliza a alma. Agora, é questão de tempo. As ondas hão de se aproximar. Esta é a minha certeza. Aqui, nada mais temo. A morte não me dá medo. Serei bem recebida, serei abraçada por este imenso mar de Copacabana.

Giovana da Rocha

domingo, 9 de dezembro de 2012

-------------------------------Saudade------------------------------

Saudade dos tempos, dos passos,
Dos dias que contigo passei

Saudade é dor que nasce
É dor que não se conforma
Sentimento de quem não aceita
Se lembrar de alguém
Que um dia foi muito
E que não se pode viver sem

Saudade é não poder olhar fundo nos olhos
Que te tiram os eixos e te perdem na alma

Saudade dos dias contados
Dos minutos que distante de ti
Me custavam a passar

Saudade do tempo
Que contigo os dias voavam
E as horas pareciam velozmente correr

Me faz falta aquela loucura boa
Que me estonteava
Que me tirava da vida
Que me punha a viver

Giovana da Rocha

Reflexos de Um Eu

E aonde quer que eu ia, estava certa de que a vida me acompanhava. Mesmo que embalasse os problemas, estes não me largavam. Eu sabia que enquanto caminhava, como pedras, nos problemas meus pés tropeçavam; como uma sombra a vida me perseguia. A cada tropeço, feridas no corpo, na alma, na vida. Silenciosa, ela não refletia nada além do que por mim um dia havia sido feito.

Giovana da Rocha

sábado, 8 de dezembro de 2012

Is it Me?

Contraditoriamente tão sã, tão louca. Discretamente apimentada, dona de um doce amargo existir.

Giovana da Rocha

Tire da solidão que assola, da vida que devora, este mero eu sem você.

Giovana da Rocha

Inevitável Desconhecer

Já era tarde, a cidade estava morta, a rua sem nada, a casa sem ninguém. A alma estava distante, meio que adormecida. Estava cansado de brigar com o sono, que tão cedo não viria. Na sala, um livro aberto, a xícara de café, o cansaço de uma vida, o sofá, um tédio que persistia. No relógio, ponteiros que corriam contra o tempo. Ia até o espelho e me olhava. Eu era vítima do tempo, da vida. Rugas e olheiras faziam parte de mim, e isso não dava para negar. Lembro-me até hoje do dia que o sofá daqui, desta sala, foi comprado. Era um grande sofá branco, com aconchegantes almofadas. O que hoje vejo não passa de um móvel encardido, sem um dos pés, com almofadas e encosto rasgados. Dói crer que todos caminhamos para um inevitável fim. Os passos. As lágrimas. Os sorrisos. Cada gesto, cada ação. Tudo está cada vez mais próximo do fim. Inesgotável, inevitável, incontrolável. Acabo de perceber que a vida aqui está para ser vivida. Começo um livro, mas não sei se termino. Construo sonhos, pensando se terão tempo de se concretizar. É incerto viver. Viemos para um mundo que não nos avisa o porquê e nem para quando o fim está traçado. A incerteza corrói e alucina o coração. Mas, isso é viver. Viver passa daquele mero existir. Viver ultrapassa qualquer explicação. Nascemos sem saber, crescemos aprendendo. Devemos correr do tempo, evitar os desperdícios. Não sabemos qual é o nosso tempo, se este pode ser poupado. Talvez a vida nos guardou um longo existir, com muito a ser visto, muito a ser admirado. Mas talvez este seja um de nossos últimos dias. Nossa história deve ser escrita um dia após o outro, com cada momento vivido nada mais e nada menos que essencial e maravilhoso.

Giovana da Rocha

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Conto - III

"Quando me dei conta, estava a pensar nas estrelas. Não conseguia me esquecer de seus brilhos. Era aconchegante repousar-me no chão do asfalto e ser abraçado pelo calor delas. O dia era bom, mas a noite me fascinava. Todo amanhecer era acompanhado pela expectativa louca para a chegada do anoitecer, que viria mais uma vez. Me sentia bem, eu sabia que a noite era a minha certeza. Ela nunca me abandonaria, ela estaria de volta todos os dias. No dia, as dores e sofrimentos de todo um mundo. Na noite, o esquecimento de toda uma infelicidade, a oportunidade de esquecer tudo." Pedro

   Ainda no tempo de brincar de pega-pega, esconde-esconde e pular corda, o bairro Volta Alegre era repleto de crianças felizes, adultos feitos e adoráveis idosos. Pedro saía da escola e ia direto para casa. Dona Lurdes já estava com o almoço pronto, a preparar um suco de laranja. Enquanto isso, seu Valdecir engraxava os sapatos, que usaria em mais um dia de serviço. Após o almoço, o garoto ia para as ruas, brincar com os amigos do bairro. Pedro ia até seu quarto, pegava a bola laranja, a corda e alguns carrinhos de mão. Com uma sacola, levava-os até a calçada, onde os amigos que estavam sentados esperando por Pedro, iriam brincar.
   À noite, chegava cansado, com os pés encardidos e a roupa suja de terra. Divertia-se tomando banho dentro do tanque de lavar roupas, limpando os pés com um escovão. Depois do jantar, a hora de dormir. Era o momento mais prazeroso do dia. Seu Valdecir deixava Pedro escolher um livro, contava uma história e contemplava a noite junto ao filho. E antes que este dormisse, dava-lhe um beijo, e dizia: "Filho, o amor do papai e da mamãe estará sempre contigo, ali na maior e mais brilhante estrela. Entre as Três Marias e do Cruzeiro do Sul." Então, o menino cerrava os olhos, satisfeito por aquele divertido dia, lembrando-se das estrelas que ele e o pai haviam visto através da janela.
   Divertidos foram seus seis anos de idade, época em que ainda não tinha muito com o que se preocupar.
Mas, exatamente há dois anos, Pedro não mais vê seus pais. Lurdes e Valdecir desapareceram, provavelmente em um acidente, quando voltavam de um passeio em Juazeiro. A notícia abalou o coração do menino, e Pedro passou dias e noites a chorar. Seu único parente próximo era um tio, que o acolheu por quinze dias em sua casa. Mas o homem não queria tornar-se responsável pelo garoto. Pedro foi então levado para o orfanato Recanto da Paz. Lá ele viveu até completar a maioridade. Em doze anos, nunca se esquecera das noites que dormia ouvindo histórias contadas pelo pai. Nunca se esqueceu de olhar as estrelas e encontrar a mais bela e brilhante, a estrela de seus pais.
   Foram anos sofridos, vividos ao lado de garotos como ele: sem pai, sem mãe, sem muito amor.
Com dezesseis anos, Pedro conheceu Luiza, uma garota que havia perdido a mãe há cerca de um mês. Luiza era menina de um corpo esguio, cabelos loiros e olhos verdes. Revoltada com a vida e a situação, passou dias em sua cama, evitando conversa com todos que tentavam se aproximar.
   Após alguns dias, depois de pegar sua bandeja com a refeição do almoço, ao virar-se para se sentar, esbarrou em Pedro. A garota não se conteve. Com uma expressão divertida ao vê-lo encoberto por macarrões e molho, soltou uma gargalhada. Quando se deram conta, estavam a rir juntos. Naquele dia, Pedro e Luiza almoçaram juntos e, a partir de então, tornaram-se amigos, parceiros em tudo. Na virada de um sábado para domingo, esperaram todos dormirem. Pularam a janela de seus quartos e se encontraram no jardim da frente. Deitaram juntos no gramado, e Pedro pôs-se a contar sobre seus pais, a dizer sobre as estrelas. A garota o ouvia com toda a atenção, ao passo que trocavam alguns olhares perdidos. Deram-se as mãos. Pedro envolveu Luiza em seus braços. Quietos, com olhares fixos, os dois se descobriam. Não tardaria muito para perceberem que estavam apaixonados. A noite passou e Luiza dormira em seus braços. Ao amanhecer, acordou assustada. Deu um tímido beijo em Pedro, que ainda dormia, e saiu correndo. A partir de então, todos os dias eram dias de fugir para encontrar-se a noite, deitar no gramado, trocar carinhos e beijos.
   Pedro e Luiza completaram dezoito anos e estavam livres para a vida. Andaram juntos até a noite cair. Deitaram-se no asfalto, olharam-se por um momento. Pedro se levantou e pediu para Luiza esperar. Em pouco tempo, estava de volta. Na mão, uma rosa roubada. No coração, os mais sinceros sentimentos. Pedro sabia o que iria fazer. Esperou o anoitecer para que com o brilho da noite, fossem abençoados pela estrela de seus pais. Pediu Luiza em namoro. A jovem, com uma certeza de mulher, respondeu: "Sim, Pedro. Serei sua mulher, e você o meu homem." Declarados um só, no calor dos corpos e no brilho da noite, celebraram um infinito e eterno amor. Pedro e Luiza celebraram uma longa noite que não iria acabar.

Giovana da Rocha


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

. I .


E percebi
Que uma pessoa sem tristezas
Não é capaz de encontrar suas grandezas na simplicidade

E aprendi
Que em uma vida feita somente de alegrias
Não se sabe o que é aprender a partir da infelicidade

Percebi que uma vida sem inimigos
Não ensina a ninguém a arte de lidar com as pessoas

Pois a vida é feita de momentos,
De risos, de choros

Pois a vida é feita de sonhos
Felicidades, desapontamentos
Desamores, amores
Alegrias e dores

Giovana da Rocha
Caráter todos têm. Alguns usam, a maioria não.

Giovana da Rocha
O segredo está em transformar as dificuldades em uma forma de se fortalecer.

Giovana da Rocha
Uma frase sem inspiração é uma carta sem receptor, um coração sem amor, uma obra sem autor.

Giovana da Rocha

terça-feira, 4 de dezembro de 2012


Quando viver significar estar vivo pelo próximo, espero ainda estar viva, e que este dia esteja próximo.

Giovana da Rocha

Epifania

Persistir, tropeçar, cair, encarar, levantar, erguer a cabeça, sorrir, e prosseguir.

Giovana da Rocha
Não existem maus e bons, apenas fracos e fortes.

Giovana da Rocha
Viver não passa de um instante que começa e, quando atinge seu ápice, termina.

Giovana da Rocha

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Coletênea de Frases 2009/10


"Enfim, abro os olhos, levanto a cabeça, avisto os caminhos... e na fé procuro por um que não me deixe assim tão evidente, que não me deixe tão eu, tão louca..."
"Não dá para chegar e dizer 'vou na fé seguindo ambas as estradas'. Ou é tudo, ou nada."
"De nada adianta buscar entendimento daquilo que não pode ser compreendido, apenas entenda que na vida nem tudo faz sentido"
"E ainda assim serei sua, mesmo que meu coração nunca te possua."
"Que um dia reconheçam minha grandeza interior, e não o título que a boca dos outros é capaz de por. Que um dia vejam que o tempo todo não tive a moral como uma ferramenta de trabalho, e sim como algo a ser pego, amassado, jogado no lixo e descartado."
"Hoje parei para pensar em nós dois e percebi que não importa o que aconteça, pois aconteça o que acontecer você não sai da minha cabeça."

"Antes não ter dinheiro que ser pobre de espírito,
Antes ser burro que ter inteligência e não saber usá-la
Antes levar uma vida sofrida que uma vida fácil trilhada pelo mal caminho
Antes viver sem pés do que usá-los para seguir a estrada errada,
Antes ser muda que usar da voz como uma arma para anunciar blasfêmias,
Antes não ser reconhecido, que ser popular e viver não sendo verdadeiro.
Antes com os olhos não conseguir enxergar, que tê-los e ainda assim não enxergar
Antes não ser tudo o que você está sempre a desejar, que deixar de ser eu mesma somente para te agradar!"


Giovana da Rocha

Na sua ausência, viver é um não existir

Talvez o melhor seria não ter te conhecido, ou ao menos não o ter encontrado. O caminho é tortuoso, cheio de atalhos e destinos, e tive que, bem em um desses, te encontrar. Não é ingratidão, nem desprezo, muito menos raiva. Apenas acredito que eu hoje estaria mais feliz sem saber quem é você, ou o que meu coração vem passando. Não é bom viver sem uma paixão que o faça voar, ir até as nuvens e percorrer o mundo em menos de um segundo. Mas, dói saber que um dia você pôde fazer tudo isso e que a partir de hoje não mais fará. Dói menos a incerteza das possibilidades do que a certeza do impossível. Não era a minha intenção lhe dizer, muito menos me sujeitar a isso. Mas, é inevitável a certeza de que sou dependente, e ainda mais certo que o meu vício só poderia ser você. Preciso de cura imediata, preciso de algo que me conforte. Não dá para continuar assim. Não posso deixar você partir, se na sua ausência sou apenas pedaços de um eu solitário, pedaços de um eu dependente. Não posso deixar você partir, se sem você sou apenas pedaços de uma alma infeliz.

Giovana da Rocha

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Conto - II


Nenhuma luz acesa. Meia-noite de domingo. Na rua, o silêncio de um enterro. Em meu quarto, a tristeza de mil legiões em luto. Não me restava muito. Apenas alguns móveis de madeira velha, o colchão, e algumas cartas de um passado remoto. Ás vezes, algum ânimo me aparecia. Então, eu acendia a vela que ficava no canto esquerdo do criado-mudo. Não era preciso adivinhar, quando me dava conta, já estava ajoelhado sobre o restos de um assoalho devorado por cupins. À minha frente, as cartas. Cartas de um amor desmerecido. Eram lembranças de uma vida ainda cheia de luz. O cheiro da minha querida, permanecia bem vivo, diferentemente de mim. Era bom lê-las. Me sentia aquele menino apaixonado pela garota mais linda do colégio. Mas a fúria me vinha quando podia menos esperar. Era a não aceitação da minha condição. Eu estava pálido, fétido, mal vestido, com dentes careados e uma barba de se confundir com um estranho emaranhado de linhas sujas. A esperança havia me abandonado e eu não queria ver a luz do dia. Eu estava sozinho e mal podia esperar pelo meu enterro. Seria a libertação de uma alma infeliz. Sim, eu estaria livre e não precisaria mais sofrer. Parentes e velhos amigos talvez apareceriam, e seria visto pelo menos uma vez na vida como protagonista de alguma cena. Não seria má ideia. Muitas noites aqui permaneci, e até agora só quem vejo são ratos, baratas e cupins de um lugar quase sem vida. As teias de aranha me sufocam, e minhas narinas mal podem respirar em lugar tão empoeirado. Acho que vou até a cozinha. Lá tem algo que me pode ser bem útil. Luzes, me faltam luzes. Tropeço por todos os cantos. Assim não posso encontrar nada. Vou voltar, e pegar a vela. Assim eu fiz, caminhei até o armário, e encontrei sem muita dificuldade, o objeto de maior valor para mim naquele momento. A faca. Sim, uma faca velha e enferrujada, mas muito boa no corte. As luzes da esperança voltaram-se, eu sentia as emoções correndo por minhas veias sujas, era uma amargura real, e eu me sentia por completo. Caminhei junto dela, e nos dirigimos até o centro da sala principal. Não haveria palco melhor para um momento tão... perfeito. Era ali, e eu sabia. Aquele era o lugar em que eu abriria as portas para uma vida menos infeliz. Acabo de cravá-la em meu peito. Este sofrimento me parece tão real, que mal posso imaginar que estou vivendo meus últimos segundos. Ah, antes que eu vá, gostaria de lhe dizer que não a esqueci por um segundo. Guardei as cartas, todas as cartas. Bom, sinto que meu sangue se escassa e estou certo de que o tempo é agora bem curto. Até as luzes da treva. Até um dia. Não se entristeça. Estou bem. Estou triunfando como nunca em toda esta inútil vida ..

Giovana da Rocha

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Conto - I

Eu estava aqui, sentada no banco do jardim. Um picolé na mão, uma caneta e algumas folhas para anotação.
Pensava na vida enquanto as estações passavam. E o que via de mais importante, eu registrava.
Enquanto roseiras floriam e murchavam, aqui eu estava. Enquanto sois nasciam e se punham, eu aqui permanecia. Do picolé, somente o palito restava. Das folhas, algumas em branco, e outras já ocupadas. A caneta, qualquer indivíduo jurava permanecer intacta. Mal informado aquele que assim pensou. Assim como o tempo que vai, a tinta se esgota, reduz gota a gota, até que a última palavra, ela registra. E mais nada.
Quando me dei conta, estava a ver pássaros felizes a voar no verão. Pus-me em pânico. A caneta dava sinais de que a tinta estava a secar. E então, as árvores me cobriam de secas folhas, e não era preciso me dizer. Eu sabia que era o outono quem estava a chegar. Das folhas, em branco somente uma restava.
Mais tarde, os pássaros que aqui sentada eu antes via, realizavam o vôo de despedida. Peguei a caneta, a folha e a esperança que me restava. Era preciso registrar toda a passagem de um triste, gélido inverno. Foi aí que notei. Eu estava despreparada. Da minha caneta pouco restava, enquanto havia uma folha inteira a ser preenchida. 

(Percebi então que na vida nada se deixa para a última hora. Aprendi que não se pode contar com uma única opção.) A caneta? secara. A folha? nua, sem nada. E eu? solitária, acompanhada somente de um banco, pagando pelo preço do comodismo. Muito a ser visto, nada a ser registrado. Para mim? estava tudo acabado.

Giovana da Rocha