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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Conto - I

Eu estava aqui, sentada no banco do jardim. Um picolé na mão, uma caneta e algumas folhas para anotação.
Pensava na vida enquanto as estações passavam. E o que via de mais importante, eu registrava.
Enquanto roseiras floriam e murchavam, aqui eu estava. Enquanto sois nasciam e se punham, eu aqui permanecia. Do picolé, somente o palito restava. Das folhas, algumas em branco, e outras já ocupadas. A caneta, qualquer indivíduo jurava permanecer intacta. Mal informado aquele que assim pensou. Assim como o tempo que vai, a tinta se esgota, reduz gota a gota, até que a última palavra, ela registra. E mais nada.
Quando me dei conta, estava a ver pássaros felizes a voar no verão. Pus-me em pânico. A caneta dava sinais de que a tinta estava a secar. E então, as árvores me cobriam de secas folhas, e não era preciso me dizer. Eu sabia que era o outono quem estava a chegar. Das folhas, em branco somente uma restava.
Mais tarde, os pássaros que aqui sentada eu antes via, realizavam o vôo de despedida. Peguei a caneta, a folha e a esperança que me restava. Era preciso registrar toda a passagem de um triste, gélido inverno. Foi aí que notei. Eu estava despreparada. Da minha caneta pouco restava, enquanto havia uma folha inteira a ser preenchida. 

(Percebi então que na vida nada se deixa para a última hora. Aprendi que não se pode contar com uma única opção.) A caneta? secara. A folha? nua, sem nada. E eu? solitária, acompanhada somente de um banco, pagando pelo preço do comodismo. Muito a ser visto, nada a ser registrado. Para mim? estava tudo acabado.

Giovana da Rocha

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