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terça-feira, 23 de julho de 2013

Um mundo

Eu vivo num mundo
Num lugar bem diferente
Você talvez não o conheça,
Mas é bom preparar-se
Que ele um dia chega
E vem sem pedir licença
Espaçoso como qual,
Não perdoa ninguém
Esse mundo não é como o outro
Ele é surdo, cego, mudo e vazio
Nele, o Nada é somente quem vejo
Talvez seja porque ando tropeçando em reais
Ou porque, não mais que frequentemente,
Afogo-me nas ondas do Medo
 Perdida, fazer-me mártir
Creio que seja o melhor a ser feito
É que cansei-me
Cansei-me das oportunidades do crédito fácil
Cansei-me das facilidades
Das facilidades de um mundo liberal
Mundo liberal que é, no entanto, um tanto excludente
Eu vivo num mundo
Num lugar bem diferente
Eu vivo num mundo
Num mundo dormente

Giovana da Rocha

segunda-feira, 22 de julho de 2013

U.m; ho.m;e.m

Na escuridão solitária e fria, um homem sozinho
Uma solidão sem motivo aparente, de apenas vazio
E, no entanto, nota-se que ele não anda sozinho
Uma figura feminina se faz de companhia

Mas, nada disso condiz
Os gélidos olhos do homem escancaram uma alma perdida
Seus negros olhos refletem uma alma vazia

Um homem
Apenas isso

Por mais que ele ande acompanhado
É a Solidão quem lhe faz companhia












Giovana da Rocha


terça-feira, 16 de julho de 2013

Espirais

Daqui, do morro enevoado, pouco vejo. Forço os olhos. Tento acordar de um possível sonho. Uma tropa de soldados a marchar num ritmo lancinante e, ao mesmo tempo, apressado. Devaneios? Tudo tão lúcido que... hesito. Espere. Veja! Uma luz. Quer seja onde estou, o modo como a tropa se põe a correr é, no mínimo, bizarro. Magnânimo. Por todos os lados. Por todas as direções. Todos os  rumos. Homens. Soldados. Todos incrivelmente sincronizados. Alucinante! Meus olhos ardem. A mente confunde-se. Tudo tão estranho e... tão verdadeiro! Desgraça. Algo, alguém?! Ei! Alguém aí? Há quem possa me tirar daqui? Tremores. Tudo a tremer. Onde estou? Tão rápido. Tão abrupto! Pânico. Galhos, folhas, poeira, terra. Tudo girando. Uma força que leva. Que deforma. Definha. Os cabelos criam vida. Em cada fio, um gigante a despertar. E então a pouca força que tenho enceta a perecer. Não me pertenço, meu corpo foge de mim. Desconexa. Perdida. À busca. Céus! À busca de que? Não faço ideia. Cairiam bem algumas respostas. Controverso. Incerto. Desconhecido. Um mundo paralelo? Inapta para pensar. Um redemoinho. Aproxima-se. Corro. Em pânico. As pernas não resistem. O cansaço vence. Redemoinho se aproxima. Atormentante. Enfurecedor. Todos sugados! Eu e o que mais possa existir. Sugados. Hauridos por uma força que tudo leva. Adormeço. Inconsciente, o corpo parece estremecer. As vísceras bradam. A alma resiste. Sentidos enfraquecidos. O cheiro. Só sinto o cheiro. Envolvente. Alucinógeno. Os soldados? Onde estariam? Outra dimensão. A essência. Aqui, a névoa é sufocante. Fizeram-me da desgraça uma amiga. Aliada. Companheira. Cenário em mudanças. Cárceres. Avisto cárceres. Grades. Jaulas. Almas. Almas perdidas. E eu. Repugnante. Repulsivo! Tudo tão excessivo... O cheiro é parte de mim. Acostumei-me a ele. Envolvente! Simplesmente fascinante. Olhe! Ventos fortes se aproximam. Árvores caindo. Galhos voando. O vento me alcança. Tenho minhas dúvidas. Agonia. Serei eu capaz? Sobreviverei? Me poupe, querida. Ensandeceu? E isso aqui por um acaso é vida? Pequena imbecil. Os lábios tremem. Calafrios. Ardores. Arrastada para rumo algum. O cheiro persiste. Está em tudo. Quem dera pudesse eu defini-lo. Ao menos entendê-lo. Agora os ventos diminuem a velocidade. A mente, caótica, tenta entender do que se trata. O que estaria por trás disso? Avisto luzes. Luzes de todas as cores pairando. Estupendo! Ao fundo posso ver homens vestindo ternos, gravatas, chapéus. Tudo preto. Semblantes sombrios. Andam num ritmo silencioso. Instrumentos por todos os cantos. Harpas que voam. Irrequietas flautas transversais. Bem ao meu lado, um órgão. Um imenso órgão. Uma sinfonia de instrumentos. Instrumentos que não precisam de músicos! Macabro. A música? Não sei. De certo, uma melodia fúnebre. Voltemos aos homens. Para cada uma de suas mãos, uma mulher. Juntos, caminham até uma estreita porta dourada. Cor de ouro. Abeirando-a, vestem as damas com mantas. Olhos irritados. Não enxergo muito bem. O que fazem depois? Não sei.Vermelhas. É isso! São vermelhas... as mantas. Espere um pouco. Ei! De quem são essas mãos? Pare com isso! Tire essas mãos imundas de mim! Não! Sujeitinho endiabrado! Espere. Por que me prendeu? Volte aqui! Sono. Que sonolência inconveniente! Bem agora... Ei! Ainda não esqueci que me prendeu aqui, viu?! Dormi. Acabo de acordar. Incapaz de estimar o tempo que passei inconsciente. Estranho. Tudo ainda mais confuso. Quem são esses homens? O que fazem aqui? E quanto a mim? Paciência. Pense. Pense. É isso! Os cárceres. Trancafiaram-me em um deles. O que fazer? Corro por todos os lados. Chuto. Brado. Grito. AAAAAAAHHHHH! Marasmo horrendo! A cada instante, uma dose a menos de lucidez! Não estou bem. Gritos ecoam. Aparvalhada. Não consigo distinguir de onde vem. Grito feminino. De dor. Espirais rotatórios. Crescem. Expandem-se. Me deixo levar. Nostalgia. Paixão. Medo. Encanto. Ódio. Loucura. Espirais tomam conta de mim. E tudo desaparece. Quanto tempo se foi? Não se pergunte. A dúvida é minha. Só sei que caminho. Marcho. Ao meu lado, alguém. O cheiro me envolve. Embala. Marcho por vontades profanas. A mando de quem. De não sei quem. Do alto, tempestade cai. Raios em mim. Nexo algum. Conhecendo um mundo. Um universo em hemorragia. Não há pânico. Me desconheço. Tormentas. Apenas isso. A porta dourada se abre para mim. Eu me abro para ela. Nudez. Alma nua. Meu corpo veste vermelho. A manta vermelha. E o cheiro que fascina.

Giovana da Rocha