Não, não adianta fazer esse olhar esquivo
A tua angústia continua aí, escancarada
Você pode procurar outros cantos, mas vai ser encontrado
Acontece, meu bem, que não sou eu que te procuro
Nem é minha culpa se temos nos encontrado
Você mostra um medo tolo, de moleque assombrado
Não há o que temer, você sabe
Tem essa coisa: fluida, sublime, que arde
Começa aqui dentro e, quando a gente vê, transcende, transborda, espalha
É isso? É isso que te assusta?
Te vejo em negação e, confesso, é das coisas que mais me entristecem
A tua indiferença encobre um medo
Teu maior impedimento é você mesmo
Você disfarça, com vestes baratas que não encobrem,
A covardia de quem teme a mudança
Eu gostava de te olhar, só por olhar mesmo!
Teu jeito sério e comprometido, tem um quê de artista, algo de mestre
Tão bom em decifrar o outro, mas por que não olha o próprio umbigo?
Meu bem, os anos passaram e você não aprendeu a mais importante lição?
É preciso abraçar a vida e os seus repentes
Não de qualquer jeito, com coragem e entusiasmo!
Mas, sabe, eu tive o tempo que precisava
Hoje eu sei da tua sagacidade
Você há muito percebeu a cronologia e o que tinha nas entrelinhas daquilo que escrevo
De fato, o início desses versos coincide com o começo da nossa história
Que existe, apesar de não termos vivido
Só não percebeu que o tempo, invariavelmente, verso a verso, passou
E hoje, não há mais muito a ser dito, só que ando cansada
E por esse motivo, nem preciso pensar em outros, encerro este poema
Com um verso que não é meu, pois estava com preguiça
Deixo-te um verso de Clarice,
Que fala de histórias como a nossa, sem começo:
“Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo”.
Giovana da Rocha