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sábado, 29 de outubro de 2016

APESAR

Apesar da dor,
Do medo,
Da insegurança

Apesar de tudo,
Das migalhas e da miséria,

Insistia
Tentava
E Fingia

Tentava ser quem não era,
Fazer o que não podia
E crer até no que não cria 

Deixava de ser quem era 
Só pra ser quem ele gostaria

E, mesmo assim,
Foi pouco,
Muito pouco

E se fizesse mais,
Não seria o bastante

Ele só se contentaria
Quando tirasse dela
Aquele que ainda batia



Giovana da Rocha

D O R

Depois de tantos tombos, tapas e porradas, a gente produz morfina. A gente passa a se defender da dor. A gente se torna imune a ela.



Giovana da Rocha

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Saravá, Omulu!

Tô nervoso e triste,
Agonia pra mais de mês
De ansiolítico já tô farto
Vou lá no terreiro,
Que pros guias não tem vez

Vou sim,
Vou no terreiro,
Que é pro guia dar conselho
Vai ser bom, lá
Ele tem ajuda do orixá

Minha perna tá inchada,
Não ando,
Só consigo me arrastar
Não sei mais o que faço
Doutor nenhum foi capaz de me curar

Dormec, diurit, clorana
Nenhum desses adiantou
Essa dor tirana,
Vou buscar o meu mentor

Lá na rua encontrei Dona Vitória,
Ela teve inchaço tipo o meu
Disse que Omulu iluminou o guia
E a curou antes que acabasse o dia

Omulu é orixá dos bons,
Dos que fazem dor virar alívio

O doutor não me acalmou,
O remédio não funcionou
O jeito é ir pro terreiro,
Que de lá eu volto inteiro

Dona Vitória se deu bem,
Contou que o guia é calmo como ninguém

Omulu vai acalmar o espírito,
Vai tirar a minha dor
Eu creio no bem do terreiro,
Ele é maior que qualquer doutor


Giovana da Rocha




















Poema apresentado na avaliação de Studium Generale do 2º Período da Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos. Data: 18/09
Conceitos escolhidos: religiosidade e medicina popular.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

D I C O T O M I A

Aquele jeito, que asco me dá!
Aquelas palavras, tão suaves e macias, 
Quem diria!

O olhar que brilha, como alguém encantado,
É mentira!

Na contramão do caminho, a sargenta:
Tão insensível e inabalável
A sargenta
Que de sargenta nada tem!
É tudo mentira

Nem ele, nem ela
Nada
Nenhum deles existia!

Amigos, abram os olhos!
Nunca, em hipótese alguma, se deixem levar:
O jeito grácil, quase inofensivo, é mentira!
Que horror, que repúdio me dá!

Mulheres e homens, escutem:
As palavras doces que embevecem,
Empacotam a alma e te levam ao paraíso
São insultos, deboches

Atentem-se!
E, em hipótese alguma, se julguem diferentes
Vai ser mentira!
Pois somos todos iguais

Os olhares que brilham
Não têm brilho algum
Eles apenas refletem:
Refletem o brilho das carnosas e fedorentas fezes
Evacuadas e declamadas com muito esmero,
Pensadas em você!

Não se deixem levar pelos olhares,
Eles até existem,
Mas brilham para qualquer tolo:
Brilharam para mim,
E mal vêem a hora de brilhar por você

Tire essa farda suja e mentirosa,
Jogue-a fora!
Você não é tão forte,
Você também quer aceitar as mãos suaves
E as palavras doces e macias!

Então repito:
A farda não faz o sargento,
E sargentos não existem

O mundo é dicotômico:
Há os brutos e os frágeis
E, é claro, alguns brutos bem trajados

Por isso, prefiram os olhares tolos
Os jeitos bobos e que não encantam tanto

Tudo, quando brilha e parece perfeito demais,
É mentira!

Repito o conselho:
Usar farda não te torna sargento
E sargentos não existem

O mundo é dicotômico

Há brutos e frágeis,
E antes tolo do que bruto
Pois o tolo não machuca
E não te entorpece com mentiras



Giovana da Rocha

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Sala de Espera


Sei que todos têm sua hora
E estou certa de que a minha há de chegar
Ansiosa, portanto, espero
Espero pela vinda de quem mal posso esperar

Pego um pano,
Que é para limpar cada cristal de meu lustre
A casa deve estar bela,
Em plena sintonia com a canção

A música, a tal canção, vinha de fora
De algum lugar bem distante
Eu não a ouvia bem,
Mas de sua letra um trecho me soava bem claro
Era como um refrão:
Não tenha pressa
Não tenha pressa

Queria sair, escolher o melhor lugar da plateia,
Esperar o sinal do maestro e ouvi-la
E ouvi-la por completo

Dizia minha velha avó que não vivemos presos:
"Minha filha, tenha calma, um dia a porta se destranca"

Decidi fazer da casa um lugar mais confortável
Devia ser bela, aconchegante e cheia de janelas
Bela, para que os olhos não se cansassem
Aconchegante, sim, pois a espera costuma ser longa
Janelas, para que o mundo não ficasse tão distante
Para que o vento entrasse
E me trouxesse a sua canção

Longe, lá de longe,
A música vinha como uma brisa
Suave, reavivante
Eu não a ouvia bem, é certo
Mas ela me visitava todas as manhãs

Não, eu não estava sozinha
A porta estava trancada
Mas as janelas iluminavam meus dias

Depois de tudo organizado,
Conclui que a sala estava pronta
Diferente de tudo que já vi!
E então, pude dedicar-me mais à música

Dias
Noites
Mais dias
E noites

O tempo foi passando
Mas o refrão era somente o que eu escutava:
Não tenha pressa
Não tenha pressa

Com o coração manso
E os olhos já cansados
Decidi que precisava dormir
O céu se fechava,
Uma tempestade estava por vir
Fechei as janelas, os olhos
Embalei o coração

Durante o sono, um estrondo
Levantei-me depressa!
Um raio? Trovão?
O que seria?

As janelas continuavam fechadas,
Intactas
Os móveis, cada um, em seu lugar
Mas a porta, ah, a porta!
Esta se abrira

Esperei que a Manhã chegasse,
Seria maravilhoso recebê-la

Em poucas horas ela chegaria,
Decidi escancarar as janelas todas
E, depois disso, ficar à entrada de casa

Ao clarear o dia, sem um minuto de atraso,
Ela chegou
Emocionada, eu disse:
Entre, por favor!

Sorridente, replicou:
Será um prazer!

Meus móveis sorriam
Faziam do dia um momento mais que especial

Ela sentou-se
E, por um instante, hesitei:
Não sabia ao certo o que dizer

Mas, danada que era, ela me conhecia
Olhando em meus olhos, pronunciou:
Não é preciso dizer nada;
Feche os olhos, prepare a alma
E sorria, menina:
Sorria, que não esqueci-me de você

De olhos fechados, aguardei o que estava por vir
E então, ela me disse:
Eu trouxe a música,
Chegou sua hora de ouvir



Giovana da Rocha

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Olhos pródigos

"Olhos que vêem, que sentem, que amam. Olhos que brilham, reluzem! Meus tão queridos olhos! Por que, por que vocês? Para quê tão alto preço? Olhos, me escutem! Sei que fiz tudo errado. Que não os deveria ter tirado da linha do horizonte. Fui seduzida, de alma e corpo inteiro! É isso o que fui"

Eu sabia, muito pouco, mas sabia. Eu bem imaginava que havia um horizonte paralelo. Ir até lá? Território desconhecido. Não. Muito arriscado. Tratei, então, de relacionar-me com uns de seus moradores, alguns loucos. O que importa, disso tudo, é que eles diziam habitar o horizonte paralelo. Eu queria um pouco mais de informação... só um pouco de informação. Que tem de mal nisso? Era o que eu pensava. Mas eu tinha de trilhar o velho horizonte... como fazem os sãos. Almas jovens enganam-se muito. Pensam que podem, mas não podem nada! AAAAH, se alguem me tivesse alertado! Ao menos dito! Mas nunca me quiseram bem. Por que é que me diriam que mais felizes são aqueles que não se metem em território desconhecido?
Diziam-me, aos elogios, que eu era inteligente. Passou-se o tempo. E passei a enxergar-me como alguém inteligente. Se há veneno para auto-destruição, alerto, este há de ser o mais letal. Os sãos não me queriam bem... evitavam-me. Faziam vista grossa às minhas dores! Por vezes, eram eles quem as causavam. Só para assistirem à minha degradação. Lenta e gradual, é claro. Para que o espetáculo durasse bastante! Ah, como isso doía! Eu me via dotada de algo especial, raro, diferente. Se uma parte de você acredita que não sou uma perdida por completo, que algo do que digo ainda faz certo sentido, preste atenção: eles me odiavam, eles me queriam destruída! Sim, é isso mesmo. Estou sendo orgulhosa, prepotente e egocêntrica. Mas o que direi em próximas linhas ainda há de ser útil... acreditem em mim. Tenho algo que eles querem muito, mas que me recuso a lhes dar.
Deve estar pensando que sou imbecil, que reclamo aos cotovelos das tantas situações de humilhação às quais me sujeitei sendo que há um meio de acabar com isso tudo. Antes de dar a você minha justificativa, faço-lhe um convite. Na verdade, você não tem muita escolha. É o seguinte: não escrevo a qualquer um, não; se tiver se identificado como mais um dos sãos, por obséquio, retire-se! Espaço meu não é lugar de maiorias. Se você se sentir, de algum modo, identificado comigo, continue a leitura. Mas não pense que para estar comigo, acompanhar-me em minhas mais profundas reflexões, basta que haja uma identificação. No decorrer deste discurso, aviso com antecedência, selecionarei quem deverá continuar me acompanhando.
Prometo não me estender muito até chegar na justificativa, mas, sabe, minha orelha esquerda parece queimar! Embora impossível, por questões lógicas, posso jurar que ouço agora um bando de babacas falando mal de mim. Dizendo que sou uma idiota, que não posso evitar sua presença aqui. Então respondo agora, a vocês, miseráveis tolos que continuam a me seguir: continuem! Podem ficar aqui, podem ouvir tudo o que direi! Garanto que logo irão enojar-se e que, por conta própria, sumirão daqui. Mas, se isso não ocorrer, não me preocupo. Vocês são tolos, não são capazes o suficiente para me acompanhar.
Agora que estamos em menor número, sinto-me mais confortável para dar minha justificativa. Desculpem-me pela tamanha enrolação. A resposta: não dou a eles o que querem porque sempre quis estar com eles, e eles pisavam em mim! Quando se depararam com a ideia de que precisavam daquilo que eu tinha, eu já havia me cansado deles. Resolvi fugir, não entregar o ouro! Sei que fazer isso é basicamente o mesmo que  fugir de sua casa carregando um baú antigo e cheio de cartas velhas, sem valor material algum, mas muito importante para você, e não ter tempo para fechar as portas. Sei que isso significa permitir que entrem e baguncem tudo. Eu sei.
Vocês devem estar agora tentando entender o que significa aquele período, aquele período escrito entre aspas, desconexo e supostamente alheio à nossa conversa. Pois podem considerá-lo desconexo, mas parem de julgá-lo alheio à nossa conversa! A presença dele, na posição mais nobre desse texto, faz o maior sentido. Tentarei ser o mais paciente e clara o possível. "Quando uma pessoa enlouquece, enlouquece por completo". Certo? Não. Mas não precisa assustar-se ou sentir-se burro, até eu acreditei que essa máxima fosse verdadeira. Pode até ser que seja. Mas, se for verdadeira, não é válida para todos. Os olhos, eu e o mundo paralelo temos mais coisas a ver que eu poderia imaginar dois ou três anos atrás. Temos mais coisas a ver que você, a uma hora dessas, pode estar imaginando. Antes de continuar, peço que compreenda que, por questões estilísticas, direi a relação entre mim, mundo paralelo e os olhos no próximo parágrafo. Caso contrário, este ficará demasiadamente extenso.
Antes de começar a explicar, uma constatação. Percebo muito olhares perplexos, confusos. Sem complicações. Sejamos objetivos! Os que não estiverem mais me entendendo, retirem-se! Vejo que sobraram alguns. Pois vamos adiante!.Metaforicamente, os olhos são aquele filho resignado, o filho que não faz nada sem o consentimento dos pais. Parece lindo, não?! Mas não é. Tenho uma teoria, que embora não venha ao caso detalhá-la, cuja máxima é "Todo bom filho um dia revolta-se". Ah, olhos queridos! Como os quero bem... Tão bem quanto quer um pai a seu filho. Não é porque meu filho decidiu ser pródigo que eu, o pai, deixei de amá-lo. Mas esse amor, que faz crer na possibilidade de resgatá-lo vivo, e bem, sabe, inconscientemente, que tudo a ser feito será em vão. E desgastante. O pai que muito tenta salvar o filho morre aos poucos. Passa a definhar em território desconhecido. Pego a maioria de vocês sentindo compaixão desse pai. Não tenham! O filho nada mais é que uma projeção que, embora um tanto diferente, compartilha os mesmos pontos que a do pai. O filho é aquilo que o pai muito pensou e que, por alguma razão, guardou dentro de si. É que os pais são mais covardes e os filhos mais destemidos. Observe: quando digo "destemidos", refiro-me ao que tornam aqueles seres medíocres e resignados depois da revolta. Vamos ao próximo parágrafo.
Peço-lhes uma venda. Você tem? Ah, obrigada! É preferível continuar assim o discurso. É que temo que... Bom, deixem para lá! Não fui clara... Quero dizer que compreendo, do fundo do coração, todos vocês. Esforçaram-se... tentaram me entender. Mas, agora, não somente sei como percebi que muitos, ou todos, não se julgam capazes de me entender. Não, não se sintam mal! Estou ouvindo prantos! Por favor, não chorem. A partir de agora, todos os que aqui estão são merecedores do meu respeito. Mas é preciso prosseguir em menor número... eu preciso de alguém capaz de chegar no mais fundo de meu âmago. Por isso não julgo nenhum de vocês... Porque eu sei que, para que haja compreensão, somente alguém que trilhou os caminhos que trilhei e que chegou aonde cheguei pode me entender. Adeus, amigos! Vocês são queridos. Já vendada, fica inviável continuar caminhando. Peço que se sentem em algum lugar aqui por perto e que, enquanto busco palavras para expressar o que tenho a dizer, contemplem, por vocês e por mim, a beleza desta noite.
Acho que estamos nos aproximando do fim, do momento que me requer maior coragem. Eu, o pai persistente que tenta salvar o filho pródigo a todo e qualquer custo, que tenta tirá-lo do território desconhecido, devo assumir. Assumir o que se passa. Admitir minha covardia, a covardia de pai. Quando jovem, almejei muito mudar-me para o mundo paralelo, mas tive medo. Perdi-me, então, ao escolher habitar o meio-termo. A perdição e o sofrimento de meu filho, de meus amados olhos, não são culpa deles. A culpa é minha. Tivesse eu aceitado viver no mundo dos sãos e entregue a eles o que queriam tudo estaria bem. Dizer bem é exagero. Mas, tudo estaria melhor. Não fui ao mundo paralelo, mas fui curiosa, busquei saber dele mais do que deveria. E o pior? Mesmo sabendo um pouco, continuou este sendo nada mais que desconhecido. Meus olhos, meu filho querido, um dia rebelaram-se. Decidiram alimentar a interrogação que vivia dentro de mim! Decidiram conhecer esse mundo. Tiveram a ousadia que eu não tive. Hoje não vivemos bem, não há sintonia entre nós. Eles costumam ir para direções opostas às minhas. Isso me incomoda, me faz mal. Isso me definha.
Mas, para tudo, ainda que doa, há uma saída. Para que doesse um pouco menos, fiz o convite... sei que foi egoísmo meu ter selecionado alguém como companhia. Depois de padecer gradativamente, sinto que em tempo não tão longo estarei morta. Porei um fim a essa angústia, livrarei minha alma e meu filho. Ah, olhos queridos! Não se preocupem. Vocês ficarão bem. O erro, que é mais meu do que seu, será corrigido. Mas, como você sabe, é muito triste aposentar a vida sozinho. Eu queria alguém que compreendesse o significado de meu fim. A venda, caso não tenham entendido, escolhi usar para evitar uma possível dor. No momento em que despedi-me das últimas pessoas, estava insegura. Não sabia se haveria alguém, ali, que me entendesse por completo. Preferi não ver se fiquei só ou se havia alguém comigo. Mas, agora é tempo de parar com adiações e encarar o fim da vida do jeito que tem que ser. É hora de soltar a venda. Olhei para os lados. Ninguém. Meus olhos, naquele instante, uniram-se a mim. Meu filho sofria tanto quanto eu! Nós chorávamos juntos. Juntos! Então, olhando para o alto, encontramos alento. A morte não seria tão dura, não enquanto a Lua estivesse a iluminar a nossa despedida, enquanto nos fizesse companhia!

Giovana da Rocha

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Pessoal, publiquei, no dia 02 de junho, sem querer o rascunho de um conto. Peço desculpas. Em breve publico o conto terminado.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Monólogo Celeste

Azul celeste. Paz. Fascínio. Conforto. Branco. Brilho. Olhos embriagados. Sentir. Meu sentir. Eu sinto. Sinto. Eu. Muito. Sinto! Muito! Não. Não estou a lamentar algo. É só que há muito o que sentir. É só que, por um instante, finjo não saber do que se trata. E tento não me lembrar de seu esquecimento... Bom. Deixemos o esquecimento, por ora, de lado. E vamos às estrelas! Lindas, e tão radiantes... Estrelas, queridas... minhas queridas.. minhas queri.. minhas. Todas minhas! Ah.. Ah. Como as.. invejo. Onde é que encontraram tamanha ternura? Grilos! Fiquem quietos por um instante!? Não viram que estou conversando? Tudo bem, podem voltar ao "cri, cri'. De fato, não sei o que ainda me leva a insistir! Incapaz. Pequena. Pouco. É como eu não fosse suficientemente merecedora... Não! Por Deus! Não há nada de errado com vocês. O problema não está em vocês. Mas em mim. Acostumei-me tanto aos humanos, e às suas respostas quase que instantâneas, que fica difícil mirá-las e compreender que não serei respondida. Ei, vocês aí! Peço desculpas. Quero dizer que sinto muito, mesmo, por não falarmos a mesma língua. E você? Cadê você, maldita cadente? Será que pode me ajudar? Por que só a vejo nos filmes e documentários? Está bem. Entendido. Digamos que já estou acostumada a não encontrá-la quando preciso. Mas não pense que me engana, sei bem que está por ai. Até entendo que talvez se incomode com a minha insistência. Mas, se, de fato, pode me ouvir, reforço-lhe meu pedido: Será que pode me ensinar a entender as estrelas? Eu sei: é tolice minha. Eu e meu velho costume de acreditar. De achar que estrelas cadentes se importam com humanos. Velho costume. Dos mais velhos. Eu sei. A culpa é toda minha. Ao menos, posso ser exclusiva em algo. Sei que não se trata de coisa boa. Mas não posso dizer que não tenho nada. É. Pensando assim, não é tão má ideia ser dona exclusiva da culpa. Agora: pare de drama! E ponha, de uma vez por todas, nesse miolo que humanos foram feitos para compreender humanos. Não estrelas! Bem, talvez a solução esteja em pensar com mais calma. Sem afobamentos! É... até que funciona. Nem tudo está, mesmo, tão mal. Perco-me em tantas reclamações que me esqueço do que é bom... de que ainda posso abraçá-las. Não é mesmo? A gente, às vezes, fica tão insatisfeito que se esquece do que tem. E de ser grato. Amigas! Ei! Não sei se já lhes disse, mas gosto demais de vocês. Nada de humano... nem nada de cadente. São perfeitas na medida certa. Talvez por isso me fascinem tanto. Agora, ouçam o conselho de quem as quer bem: não aceitem promoção! Se preciso, suplico. Temo que virem cadentes. E que fujam de mim. E que não me incluam às suas ocupações. Gosto de como são gentis.. e polidas. Parecem nem se cansar de tantas visitas. Sei que é egoísmo, que não devo interferir em escolhas suas. Mas é assim, com vocês, que me sinto feliz. Obrigada, mesmo. Pelo conforto de sempre. Por não se esquecerem uma noite sequer de mim. Por estarem aqui quando preciso de abraço. Quando os lenços não são suficientes para o pranto. E espero, do fundo do coração, que eu não as incomode. Não. São boas. Vocês não se sentem incomodadas. Não comigo. E não será agora que as incomodarei. São boas. Do tamanho do tempo e da atenção que careço! Azul celeste. Da cor que tem que estar. Da cor da felicidade. Tão azul e tão branco. Da cor da minha paz. Do tamanho do abraço que preciso. Não mais que o tempo que levo para as alcançar. Aprontem-se, que já estou aí. Bom saber que o tempo é pouco: não mais que alguns segundos... Minutos? Não... nem isso! Acho que alguém andou perdendo algumas aulas de cálculo! Não me diga que esqueceu-se de como se faz para contar? Cálculo! Ahhh, o cálculo. E você! Sempre tão presente e prestativa...Mais parece que chegou só para me lembrar do mundo! Sabe, você é, às vezes, muito amarga. Não faz bem ficar pensando nisso. Não é bom se lembrar do esquecimento. Ninguém gosta de ser ignorado. Já estou farta do mundo! Então vá, vá até lá, com as suas estrelas, e reze para que, na hora da fome, elas te encham a barriga. Cuidado, querida... eu só quero o seu bem. Não dá para viver assim, só de estrelas! Agradeço os conselhos e a preocupação. Agora, peço que me dê licença, tenho mais o que fazer. Ei! Desculpem-me pelo atraso! Tive um pequeno contratempo... mas deixem para lá! Vamos falar de nós... Posso aproveitar e falar um pouco de mim? A vida tem estado tão corrida... e triste. Quase não dá tempo para me lembrar de mim. O mundo pede muito, sou fraca, e temo que eu enlouqueça. Sabe, amigas, eu, na verdade, não tenho muito: somente alguns restos de alegria e duas ou três boas recordações. Gosto demais de vocês. Não são como humanos, nem como cadentes... nem como o mundo! A vocês, minha eterna gratidão. O mundo é frio... é esquecimento e indiferença. Há tempos não me sinto importante. Mais uma em meio ao caos... É isso! Eu sou essa. Sim. É essa quem sou. Mas vocês não se importam, não é mesmo? Sei que não. São boas... polidas. Estrelas, minhas amadas companheiras, a vontade é de chorar. Me abracem forte, não me deixem fraquejar. Amanhã, é preciso estar em pé, e somente a noite é pouco para chorar. Mas não se preocupem... vou tratar de ficar bem. Sinto muito, mesmo. E dessa vez não é por eu não as ter entendido ou por não falarmos a mesma língua. É só que o céu também se cansou, e que suas lágrimas, agora, caem em mim. A janela está aberta e o chão já está se molhando. Peço a vocês desculpas por sair correndo desta forma e por mal me despedir. Cuidem de mim. Cuidem de nosso amigo. Azul celeste. Paz. Fascínio. Azul brilhante. Da cor da minha paz! Pela janela, pouco vejo. Apenas suas lágrimas: as gotas que escorrem em meu vidro! Chore, meu amigo! Somos todos, mesmo, frágeis... E o mundo não passa de um esquecido! A vocês, minhas amigas, refaço o pedido: não virem cadentes, fiquem comigo! Guardo-as no canto mais especial de mim. Paro por aqui. Já está tarde. É hora de dormir.

Giovana da Rocha

quinta-feira, 6 de março de 2014

. --------------------- Meu Bem Querer ---------------------- .

Certas coisas, na vida, nunca mudam
Outras, no entanto, nos mudam para sempre
Escolhas nem sempre são certas,
Elas apenas querem o que é certo
Só se esquecem, às vezes, de que, nem sempre,
O melhor no que é certo se encontra

Certas coisas, apesar dos apesares, 
Continuam as mesmas
E isso vale para tudo
Vale para você, para mim, pra todo mundo
Vale, também, para o meu bem querer

Passam-se o tempo, os dias, os meses, o medo
Então eu me pergunto: como há de ser possível
Eu continuar te "bem querendo"?

Pois pegue e guarde este recado,
Como se faz com as boas e velhas recordações,
Sob sete chaves, como quando se protege algo valioso,
Que meu bem querer assim há de ser cuidado

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O mesmo céu que representa a infinitude é aquele que, quando temido, limita o homem à pequenez.
Giovana da Rocha. 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Ser digno é relativamente fácil, quando se tem comida na mesa. Difícil mesmo é dar a um pobre faminto a chance de viver com dignidade.
Giovana da Rocha.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A procura - a vida e o legado de um Homem

"Procuro um homem". Alguém arriscaria dizer que é conversa de mulher "encalhada". Outros poderiam pensar apenas em alguém na tentativa de encontrar uma certa pessoa. Saber para onde ela foi, aonde está, ou em qual cidade está residindo. Comum pensar dessa forma. Ao menos, o esperado. Mas não foi isso que Diógenes de Sínope quis dizer. Diógenes falava de honra, de honestidade, de esperança. Habitando um barril e vagando por todos os cantos com uma lamparina em mãos, à procura do "não", o filósofo costumava repetir a frase a quem lhe desse ouvidos: "Procuro um homem". Incompreendido. Era um indivíduo a frente do tempo. Não digo a frente de seu tempo, porque o legado de Diógenes percorreu séculos e mantém-se ainda a frente do tempo. Do nosso tempo.
Pelas ruas que percorria, só o que encontrava eram excessos, e fracassados. O senso comum, a coerção, as amarras. A isso tudo era preciso o "não". Mas quem proferiria tal palavra? Talvez alguns. Talvez, não. Alguns, com certeza, disseram, e dizem hoje. Mas nada mudou! "Rebelaram-se" contra as convenções sociais, declararam em público serem a oposição. Oposição ou "farinha do mesmo saco"? A esses, o desprezo de um pensador cínico.
Era preciso alguém capaz de honrar as palavras, e que as pusesse em prática. Não foi isso que ele encontrou. Ninguém compreendeu que não havia segredo. A essência era o próprio segredo.
Bom. Talvez o mundo seja "ultra-determinista". E nós, de fato, um produto dele. Não acha? Como poderia o homem ser bom se as instituições instauram leis manipuladas? O que me diz quanto à felicidade vendida? E quanto à verdade mascarada?
Seria possível, em meio à grande massa, alguém, alguma pessoa, renunciar a tudo que a prende? Aos costumes, ao bem material, aos valores sociais e à ética imoral? Crer em possibilidades tão ínfimas cabe somente à Esperança. Diógenes tentou. Procurou um homem. Quem sabe um dia, dentre tantos humanos, um homem dê sinal de vida. Não sejamos descrentes. Talvez, um dia, a lamparina de Diógenes se acenda. Talvez ela seja a tão famosa "luz no fim do túnel"."



Giovana da Rocha


Para saber mais a respeito de Diógenes de Sínope, recomendo: http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=30

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Hey!

Hello, friends. I'd like to say "thank you" to all the people who visited my page. In answer to some questions, my topics are all written by me. I'm glad you all appreciated my publications. Sorry for my delay. I have just found out a tool of spams, and your comments were in it. If you still visite me, send me your links because I can't find your pages only with its names, and i'd like so much to follow you all. I don't write regularly, only when inspiration comes. Hope you understand. Thanks for visiting. Giovana da Rocha

terça-feira, 23 de julho de 2013

Um mundo

Eu vivo num mundo
Num lugar bem diferente
Você talvez não o conheça,
Mas é bom preparar-se
Que ele um dia chega
E vem sem pedir licença
Espaçoso como qual,
Não perdoa ninguém
Esse mundo não é como o outro
Ele é surdo, cego, mudo e vazio
Nele, o Nada é somente quem vejo
Talvez seja porque ando tropeçando em reais
Ou porque, não mais que frequentemente,
Afogo-me nas ondas do Medo
 Perdida, fazer-me mártir
Creio que seja o melhor a ser feito
É que cansei-me
Cansei-me das oportunidades do crédito fácil
Cansei-me das facilidades
Das facilidades de um mundo liberal
Mundo liberal que é, no entanto, um tanto excludente
Eu vivo num mundo
Num lugar bem diferente
Eu vivo num mundo
Num mundo dormente

Giovana da Rocha

segunda-feira, 22 de julho de 2013

U.m; ho.m;e.m

Na escuridão solitária e fria, um homem sozinho
Uma solidão sem motivo aparente, de apenas vazio
E, no entanto, nota-se que ele não anda sozinho
Uma figura feminina se faz de companhia

Mas, nada disso condiz
Os gélidos olhos do homem escancaram uma alma perdida
Seus negros olhos refletem uma alma vazia

Um homem
Apenas isso

Por mais que ele ande acompanhado
É a Solidão quem lhe faz companhia












Giovana da Rocha


terça-feira, 16 de julho de 2013

Espirais

Daqui, do morro enevoado, pouco vejo. Forço os olhos. Tento acordar de um possível sonho. Uma tropa de soldados a marchar num ritmo lancinante e, ao mesmo tempo, apressado. Devaneios? Tudo tão lúcido que... hesito. Espere. Veja! Uma luz. Quer seja onde estou, o modo como a tropa se põe a correr é, no mínimo, bizarro. Magnânimo. Por todos os lados. Por todas as direções. Todos os  rumos. Homens. Soldados. Todos incrivelmente sincronizados. Alucinante! Meus olhos ardem. A mente confunde-se. Tudo tão estranho e... tão verdadeiro! Desgraça. Algo, alguém?! Ei! Alguém aí? Há quem possa me tirar daqui? Tremores. Tudo a tremer. Onde estou? Tão rápido. Tão abrupto! Pânico. Galhos, folhas, poeira, terra. Tudo girando. Uma força que leva. Que deforma. Definha. Os cabelos criam vida. Em cada fio, um gigante a despertar. E então a pouca força que tenho enceta a perecer. Não me pertenço, meu corpo foge de mim. Desconexa. Perdida. À busca. Céus! À busca de que? Não faço ideia. Cairiam bem algumas respostas. Controverso. Incerto. Desconhecido. Um mundo paralelo? Inapta para pensar. Um redemoinho. Aproxima-se. Corro. Em pânico. As pernas não resistem. O cansaço vence. Redemoinho se aproxima. Atormentante. Enfurecedor. Todos sugados! Eu e o que mais possa existir. Sugados. Hauridos por uma força que tudo leva. Adormeço. Inconsciente, o corpo parece estremecer. As vísceras bradam. A alma resiste. Sentidos enfraquecidos. O cheiro. Só sinto o cheiro. Envolvente. Alucinógeno. Os soldados? Onde estariam? Outra dimensão. A essência. Aqui, a névoa é sufocante. Fizeram-me da desgraça uma amiga. Aliada. Companheira. Cenário em mudanças. Cárceres. Avisto cárceres. Grades. Jaulas. Almas. Almas perdidas. E eu. Repugnante. Repulsivo! Tudo tão excessivo... O cheiro é parte de mim. Acostumei-me a ele. Envolvente! Simplesmente fascinante. Olhe! Ventos fortes se aproximam. Árvores caindo. Galhos voando. O vento me alcança. Tenho minhas dúvidas. Agonia. Serei eu capaz? Sobreviverei? Me poupe, querida. Ensandeceu? E isso aqui por um acaso é vida? Pequena imbecil. Os lábios tremem. Calafrios. Ardores. Arrastada para rumo algum. O cheiro persiste. Está em tudo. Quem dera pudesse eu defini-lo. Ao menos entendê-lo. Agora os ventos diminuem a velocidade. A mente, caótica, tenta entender do que se trata. O que estaria por trás disso? Avisto luzes. Luzes de todas as cores pairando. Estupendo! Ao fundo posso ver homens vestindo ternos, gravatas, chapéus. Tudo preto. Semblantes sombrios. Andam num ritmo silencioso. Instrumentos por todos os cantos. Harpas que voam. Irrequietas flautas transversais. Bem ao meu lado, um órgão. Um imenso órgão. Uma sinfonia de instrumentos. Instrumentos que não precisam de músicos! Macabro. A música? Não sei. De certo, uma melodia fúnebre. Voltemos aos homens. Para cada uma de suas mãos, uma mulher. Juntos, caminham até uma estreita porta dourada. Cor de ouro. Abeirando-a, vestem as damas com mantas. Olhos irritados. Não enxergo muito bem. O que fazem depois? Não sei.Vermelhas. É isso! São vermelhas... as mantas. Espere um pouco. Ei! De quem são essas mãos? Pare com isso! Tire essas mãos imundas de mim! Não! Sujeitinho endiabrado! Espere. Por que me prendeu? Volte aqui! Sono. Que sonolência inconveniente! Bem agora... Ei! Ainda não esqueci que me prendeu aqui, viu?! Dormi. Acabo de acordar. Incapaz de estimar o tempo que passei inconsciente. Estranho. Tudo ainda mais confuso. Quem são esses homens? O que fazem aqui? E quanto a mim? Paciência. Pense. Pense. É isso! Os cárceres. Trancafiaram-me em um deles. O que fazer? Corro por todos os lados. Chuto. Brado. Grito. AAAAAAAHHHHH! Marasmo horrendo! A cada instante, uma dose a menos de lucidez! Não estou bem. Gritos ecoam. Aparvalhada. Não consigo distinguir de onde vem. Grito feminino. De dor. Espirais rotatórios. Crescem. Expandem-se. Me deixo levar. Nostalgia. Paixão. Medo. Encanto. Ódio. Loucura. Espirais tomam conta de mim. E tudo desaparece. Quanto tempo se foi? Não se pergunte. A dúvida é minha. Só sei que caminho. Marcho. Ao meu lado, alguém. O cheiro me envolve. Embala. Marcho por vontades profanas. A mando de quem. De não sei quem. Do alto, tempestade cai. Raios em mim. Nexo algum. Conhecendo um mundo. Um universo em hemorragia. Não há pânico. Me desconheço. Tormentas. Apenas isso. A porta dourada se abre para mim. Eu me abro para ela. Nudez. Alma nua. Meu corpo veste vermelho. A manta vermelha. E o cheiro que fascina.

Giovana da Rocha