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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Monólogo Celeste

Azul celeste. Paz. Fascínio. Conforto. Branco. Brilho. Olhos embriagados. Sentir. Meu sentir. Eu sinto. Sinto. Eu. Muito. Sinto! Muito! Não. Não estou a lamentar algo. É só que há muito o que sentir. É só que, por um instante, finjo não saber do que se trata. E tento não me lembrar de seu esquecimento... Bom. Deixemos o esquecimento, por ora, de lado. E vamos às estrelas! Lindas, e tão radiantes... Estrelas, queridas... minhas queridas.. minhas queri.. minhas. Todas minhas! Ah.. Ah. Como as.. invejo. Onde é que encontraram tamanha ternura? Grilos! Fiquem quietos por um instante!? Não viram que estou conversando? Tudo bem, podem voltar ao "cri, cri'. De fato, não sei o que ainda me leva a insistir! Incapaz. Pequena. Pouco. É como eu não fosse suficientemente merecedora... Não! Por Deus! Não há nada de errado com vocês. O problema não está em vocês. Mas em mim. Acostumei-me tanto aos humanos, e às suas respostas quase que instantâneas, que fica difícil mirá-las e compreender que não serei respondida. Ei, vocês aí! Peço desculpas. Quero dizer que sinto muito, mesmo, por não falarmos a mesma língua. E você? Cadê você, maldita cadente? Será que pode me ajudar? Por que só a vejo nos filmes e documentários? Está bem. Entendido. Digamos que já estou acostumada a não encontrá-la quando preciso. Mas não pense que me engana, sei bem que está por ai. Até entendo que talvez se incomode com a minha insistência. Mas, se, de fato, pode me ouvir, reforço-lhe meu pedido: Será que pode me ensinar a entender as estrelas? Eu sei: é tolice minha. Eu e meu velho costume de acreditar. De achar que estrelas cadentes se importam com humanos. Velho costume. Dos mais velhos. Eu sei. A culpa é toda minha. Ao menos, posso ser exclusiva em algo. Sei que não se trata de coisa boa. Mas não posso dizer que não tenho nada. É. Pensando assim, não é tão má ideia ser dona exclusiva da culpa. Agora: pare de drama! E ponha, de uma vez por todas, nesse miolo que humanos foram feitos para compreender humanos. Não estrelas! Bem, talvez a solução esteja em pensar com mais calma. Sem afobamentos! É... até que funciona. Nem tudo está, mesmo, tão mal. Perco-me em tantas reclamações que me esqueço do que é bom... de que ainda posso abraçá-las. Não é mesmo? A gente, às vezes, fica tão insatisfeito que se esquece do que tem. E de ser grato. Amigas! Ei! Não sei se já lhes disse, mas gosto demais de vocês. Nada de humano... nem nada de cadente. São perfeitas na medida certa. Talvez por isso me fascinem tanto. Agora, ouçam o conselho de quem as quer bem: não aceitem promoção! Se preciso, suplico. Temo que virem cadentes. E que fujam de mim. E que não me incluam às suas ocupações. Gosto de como são gentis.. e polidas. Parecem nem se cansar de tantas visitas. Sei que é egoísmo, que não devo interferir em escolhas suas. Mas é assim, com vocês, que me sinto feliz. Obrigada, mesmo. Pelo conforto de sempre. Por não se esquecerem uma noite sequer de mim. Por estarem aqui quando preciso de abraço. Quando os lenços não são suficientes para o pranto. E espero, do fundo do coração, que eu não as incomode. Não. São boas. Vocês não se sentem incomodadas. Não comigo. E não será agora que as incomodarei. São boas. Do tamanho do tempo e da atenção que careço! Azul celeste. Da cor que tem que estar. Da cor da felicidade. Tão azul e tão branco. Da cor da minha paz. Do tamanho do abraço que preciso. Não mais que o tempo que levo para as alcançar. Aprontem-se, que já estou aí. Bom saber que o tempo é pouco: não mais que alguns segundos... Minutos? Não... nem isso! Acho que alguém andou perdendo algumas aulas de cálculo! Não me diga que esqueceu-se de como se faz para contar? Cálculo! Ahhh, o cálculo. E você! Sempre tão presente e prestativa...Mais parece que chegou só para me lembrar do mundo! Sabe, você é, às vezes, muito amarga. Não faz bem ficar pensando nisso. Não é bom se lembrar do esquecimento. Ninguém gosta de ser ignorado. Já estou farta do mundo! Então vá, vá até lá, com as suas estrelas, e reze para que, na hora da fome, elas te encham a barriga. Cuidado, querida... eu só quero o seu bem. Não dá para viver assim, só de estrelas! Agradeço os conselhos e a preocupação. Agora, peço que me dê licença, tenho mais o que fazer. Ei! Desculpem-me pelo atraso! Tive um pequeno contratempo... mas deixem para lá! Vamos falar de nós... Posso aproveitar e falar um pouco de mim? A vida tem estado tão corrida... e triste. Quase não dá tempo para me lembrar de mim. O mundo pede muito, sou fraca, e temo que eu enlouqueça. Sabe, amigas, eu, na verdade, não tenho muito: somente alguns restos de alegria e duas ou três boas recordações. Gosto demais de vocês. Não são como humanos, nem como cadentes... nem como o mundo! A vocês, minha eterna gratidão. O mundo é frio... é esquecimento e indiferença. Há tempos não me sinto importante. Mais uma em meio ao caos... É isso! Eu sou essa. Sim. É essa quem sou. Mas vocês não se importam, não é mesmo? Sei que não. São boas... polidas. Estrelas, minhas amadas companheiras, a vontade é de chorar. Me abracem forte, não me deixem fraquejar. Amanhã, é preciso estar em pé, e somente a noite é pouco para chorar. Mas não se preocupem... vou tratar de ficar bem. Sinto muito, mesmo. E dessa vez não é por eu não as ter entendido ou por não falarmos a mesma língua. É só que o céu também se cansou, e que suas lágrimas, agora, caem em mim. A janela está aberta e o chão já está se molhando. Peço a vocês desculpas por sair correndo desta forma e por mal me despedir. Cuidem de mim. Cuidem de nosso amigo. Azul celeste. Paz. Fascínio. Azul brilhante. Da cor da minha paz! Pela janela, pouco vejo. Apenas suas lágrimas: as gotas que escorrem em meu vidro! Chore, meu amigo! Somos todos, mesmo, frágeis... E o mundo não passa de um esquecido! A vocês, minhas amigas, refaço o pedido: não virem cadentes, fiquem comigo! Guardo-as no canto mais especial de mim. Paro por aqui. Já está tarde. É hora de dormir.

Giovana da Rocha

quinta-feira, 6 de março de 2014

. --------------------- Meu Bem Querer ---------------------- .

Certas coisas, na vida, nunca mudam
Outras, no entanto, nos mudam para sempre
Escolhas nem sempre são certas,
Elas apenas querem o que é certo
Só se esquecem, às vezes, de que, nem sempre,
O melhor no que é certo se encontra

Certas coisas, apesar dos apesares, 
Continuam as mesmas
E isso vale para tudo
Vale para você, para mim, pra todo mundo
Vale, também, para o meu bem querer

Passam-se o tempo, os dias, os meses, o medo
Então eu me pergunto: como há de ser possível
Eu continuar te "bem querendo"?

Pois pegue e guarde este recado,
Como se faz com as boas e velhas recordações,
Sob sete chaves, como quando se protege algo valioso,
Que meu bem querer assim há de ser cuidado

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O mesmo céu que representa a infinitude é aquele que, quando temido, limita o homem à pequenez.
Giovana da Rocha. 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Ser digno é relativamente fácil, quando se tem comida na mesa. Difícil mesmo é dar a um pobre faminto a chance de viver com dignidade.
Giovana da Rocha.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A procura - a vida e o legado de um Homem

"Procuro um homem". Alguém arriscaria dizer que é conversa de mulher "encalhada". Outros poderiam pensar apenas em alguém na tentativa de encontrar uma certa pessoa. Saber para onde ela foi, aonde está, ou em qual cidade está residindo. Comum pensar dessa forma. Ao menos, o esperado. Mas não foi isso que Diógenes de Sínope quis dizer. Diógenes falava de honra, de honestidade, de esperança. Habitando um barril e vagando por todos os cantos com uma lamparina em mãos, à procura do "não", o filósofo costumava repetir a frase a quem lhe desse ouvidos: "Procuro um homem". Incompreendido. Era um indivíduo a frente do tempo. Não digo a frente de seu tempo, porque o legado de Diógenes percorreu séculos e mantém-se ainda a frente do tempo. Do nosso tempo.
Pelas ruas que percorria, só o que encontrava eram excessos, e fracassados. O senso comum, a coerção, as amarras. A isso tudo era preciso o "não". Mas quem proferiria tal palavra? Talvez alguns. Talvez, não. Alguns, com certeza, disseram, e dizem hoje. Mas nada mudou! "Rebelaram-se" contra as convenções sociais, declararam em público serem a oposição. Oposição ou "farinha do mesmo saco"? A esses, o desprezo de um pensador cínico.
Era preciso alguém capaz de honrar as palavras, e que as pusesse em prática. Não foi isso que ele encontrou. Ninguém compreendeu que não havia segredo. A essência era o próprio segredo.
Bom. Talvez o mundo seja "ultra-determinista". E nós, de fato, um produto dele. Não acha? Como poderia o homem ser bom se as instituições instauram leis manipuladas? O que me diz quanto à felicidade vendida? E quanto à verdade mascarada?
Seria possível, em meio à grande massa, alguém, alguma pessoa, renunciar a tudo que a prende? Aos costumes, ao bem material, aos valores sociais e à ética imoral? Crer em possibilidades tão ínfimas cabe somente à Esperança. Diógenes tentou. Procurou um homem. Quem sabe um dia, dentre tantos humanos, um homem dê sinal de vida. Não sejamos descrentes. Talvez, um dia, a lamparina de Diógenes se acenda. Talvez ela seja a tão famosa "luz no fim do túnel"."



Giovana da Rocha


Para saber mais a respeito de Diógenes de Sínope, recomendo: http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=30

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Hey!

Hello, friends. I'd like to say "thank you" to all the people who visited my page. In answer to some questions, my topics are all written by me. I'm glad you all appreciated my publications. Sorry for my delay. I have just found out a tool of spams, and your comments were in it. If you still visite me, send me your links because I can't find your pages only with its names, and i'd like so much to follow you all. I don't write regularly, only when inspiration comes. Hope you understand. Thanks for visiting. Giovana da Rocha

terça-feira, 23 de julho de 2013

Um mundo

Eu vivo num mundo
Num lugar bem diferente
Você talvez não o conheça,
Mas é bom preparar-se
Que ele um dia chega
E vem sem pedir licença
Espaçoso como qual,
Não perdoa ninguém
Esse mundo não é como o outro
Ele é surdo, cego, mudo e vazio
Nele, o Nada é somente quem vejo
Talvez seja porque ando tropeçando em reais
Ou porque, não mais que frequentemente,
Afogo-me nas ondas do Medo
 Perdida, fazer-me mártir
Creio que seja o melhor a ser feito
É que cansei-me
Cansei-me das oportunidades do crédito fácil
Cansei-me das facilidades
Das facilidades de um mundo liberal
Mundo liberal que é, no entanto, um tanto excludente
Eu vivo num mundo
Num lugar bem diferente
Eu vivo num mundo
Num mundo dormente

Giovana da Rocha

segunda-feira, 22 de julho de 2013

U.m; ho.m;e.m

Na escuridão solitária e fria, um homem sozinho
Uma solidão sem motivo aparente, de apenas vazio
E, no entanto, nota-se que ele não anda sozinho
Uma figura feminina se faz de companhia

Mas, nada disso condiz
Os gélidos olhos do homem escancaram uma alma perdida
Seus negros olhos refletem uma alma vazia

Um homem
Apenas isso

Por mais que ele ande acompanhado
É a Solidão quem lhe faz companhia












Giovana da Rocha


terça-feira, 16 de julho de 2013

Espirais

Daqui, do morro enevoado, pouco vejo. Forço os olhos. Tento acordar de um possível sonho. Uma tropa de soldados a marchar num ritmo lancinante e, ao mesmo tempo, apressado. Devaneios? Tudo tão lúcido que... hesito. Espere. Veja! Uma luz. Quer seja onde estou, o modo como a tropa se põe a correr é, no mínimo, bizarro. Magnânimo. Por todos os lados. Por todas as direções. Todos os  rumos. Homens. Soldados. Todos incrivelmente sincronizados. Alucinante! Meus olhos ardem. A mente confunde-se. Tudo tão estranho e... tão verdadeiro! Desgraça. Algo, alguém?! Ei! Alguém aí? Há quem possa me tirar daqui? Tremores. Tudo a tremer. Onde estou? Tão rápido. Tão abrupto! Pânico. Galhos, folhas, poeira, terra. Tudo girando. Uma força que leva. Que deforma. Definha. Os cabelos criam vida. Em cada fio, um gigante a despertar. E então a pouca força que tenho enceta a perecer. Não me pertenço, meu corpo foge de mim. Desconexa. Perdida. À busca. Céus! À busca de que? Não faço ideia. Cairiam bem algumas respostas. Controverso. Incerto. Desconhecido. Um mundo paralelo? Inapta para pensar. Um redemoinho. Aproxima-se. Corro. Em pânico. As pernas não resistem. O cansaço vence. Redemoinho se aproxima. Atormentante. Enfurecedor. Todos sugados! Eu e o que mais possa existir. Sugados. Hauridos por uma força que tudo leva. Adormeço. Inconsciente, o corpo parece estremecer. As vísceras bradam. A alma resiste. Sentidos enfraquecidos. O cheiro. Só sinto o cheiro. Envolvente. Alucinógeno. Os soldados? Onde estariam? Outra dimensão. A essência. Aqui, a névoa é sufocante. Fizeram-me da desgraça uma amiga. Aliada. Companheira. Cenário em mudanças. Cárceres. Avisto cárceres. Grades. Jaulas. Almas. Almas perdidas. E eu. Repugnante. Repulsivo! Tudo tão excessivo... O cheiro é parte de mim. Acostumei-me a ele. Envolvente! Simplesmente fascinante. Olhe! Ventos fortes se aproximam. Árvores caindo. Galhos voando. O vento me alcança. Tenho minhas dúvidas. Agonia. Serei eu capaz? Sobreviverei? Me poupe, querida. Ensandeceu? E isso aqui por um acaso é vida? Pequena imbecil. Os lábios tremem. Calafrios. Ardores. Arrastada para rumo algum. O cheiro persiste. Está em tudo. Quem dera pudesse eu defini-lo. Ao menos entendê-lo. Agora os ventos diminuem a velocidade. A mente, caótica, tenta entender do que se trata. O que estaria por trás disso? Avisto luzes. Luzes de todas as cores pairando. Estupendo! Ao fundo posso ver homens vestindo ternos, gravatas, chapéus. Tudo preto. Semblantes sombrios. Andam num ritmo silencioso. Instrumentos por todos os cantos. Harpas que voam. Irrequietas flautas transversais. Bem ao meu lado, um órgão. Um imenso órgão. Uma sinfonia de instrumentos. Instrumentos que não precisam de músicos! Macabro. A música? Não sei. De certo, uma melodia fúnebre. Voltemos aos homens. Para cada uma de suas mãos, uma mulher. Juntos, caminham até uma estreita porta dourada. Cor de ouro. Abeirando-a, vestem as damas com mantas. Olhos irritados. Não enxergo muito bem. O que fazem depois? Não sei.Vermelhas. É isso! São vermelhas... as mantas. Espere um pouco. Ei! De quem são essas mãos? Pare com isso! Tire essas mãos imundas de mim! Não! Sujeitinho endiabrado! Espere. Por que me prendeu? Volte aqui! Sono. Que sonolência inconveniente! Bem agora... Ei! Ainda não esqueci que me prendeu aqui, viu?! Dormi. Acabo de acordar. Incapaz de estimar o tempo que passei inconsciente. Estranho. Tudo ainda mais confuso. Quem são esses homens? O que fazem aqui? E quanto a mim? Paciência. Pense. Pense. É isso! Os cárceres. Trancafiaram-me em um deles. O que fazer? Corro por todos os lados. Chuto. Brado. Grito. AAAAAAAHHHHH! Marasmo horrendo! A cada instante, uma dose a menos de lucidez! Não estou bem. Gritos ecoam. Aparvalhada. Não consigo distinguir de onde vem. Grito feminino. De dor. Espirais rotatórios. Crescem. Expandem-se. Me deixo levar. Nostalgia. Paixão. Medo. Encanto. Ódio. Loucura. Espirais tomam conta de mim. E tudo desaparece. Quanto tempo se foi? Não se pergunte. A dúvida é minha. Só sei que caminho. Marcho. Ao meu lado, alguém. O cheiro me envolve. Embala. Marcho por vontades profanas. A mando de quem. De não sei quem. Do alto, tempestade cai. Raios em mim. Nexo algum. Conhecendo um mundo. Um universo em hemorragia. Não há pânico. Me desconheço. Tormentas. Apenas isso. A porta dourada se abre para mim. Eu me abro para ela. Nudez. Alma nua. Meu corpo veste vermelho. A manta vermelha. E o cheiro que fascina.

Giovana da Rocha














quarta-feira, 26 de junho de 2013

A vida se faz sombria quando o dia anoitece. O coração acelera quando a alegria está prestes a findar. Os ânimos sufocam toda vez que se vai algo bom. As razões se perdem quando o coração clama. A mente disputa com ele, e a alma se confunde. Desconheço o que destino espera de mim. Sem rumo, estou aqui. Os pensamentos, um tanto dispersos, ali. Caminhos tortuosos, e a lógica que mudou de time. Eu, repleta de tudo, que carrego um coração tão cheio de nada.
Giovana da Rocha

domingo, 23 de junho de 2013

domingo, 16 de junho de 2013

Amor Vira-lata

Uma cadelinha feia, porém graciosa. Talvez mais um dos cães que, por onde passam, exibem fome.

                                  
Naquela tarde -se não me engano, uma quinta-feira após a quarta-feira de cinzas- , saí antes para o serviço. Na calçada de casa repousava a pequenina. Pude sentir como aquele pobre e tísico animal clamava minha presença, a implorar um mínimo de atenção. Sentei-me então a seu lado enquanto aqueles olhos de vira-lata me diziam muito. Naquela incredulidade que só os animais têm, eu a via em tamanho estado de agonia que era possível ouvir gritos de dor. Acho que tudo não se passava de um protesto silencioso dos que berram escancaradamente onde ninguém faz questão de ouvir. Confesso que pouco conhecia da pobre: só o que sabia é que esta apareceu há alguns meses na vizinhança. Sabia também que é de seu costume, todas as tardes, passar bom tempo fronte à minha casa. Quando a noite cai, se eu não saio de casa e a levo um pedaço de pão, ela se põe a uivar até que, me dando por vencido, atendo aos seus pedidos.
Algo, no entanto, me tem consumido: me incomoda notar que se desenvolve em mim certo tipo de zelo crescente que é, ao mesmo tempo, tão imbecil por um animal tão... estúpido!
Foi ao parar para ver o horário, que os ponteiros me desesperaram: eu estava atrasado. Passei, então, dias a planejar algo que me solucionasse os problemas. Eu não queria(nem nunca desejei) o mal daquela cachorra. Solteiro, 41 anos, viúvo. Não seria má ideia fazer daquele cão uma companhia para mim. Não se eu fosse menos eu. Acontece que está surgindo um repúdio, ódio tolo, por aquele bicho. Sempre incomodaram-me pessoas que mendigam atenção, todos aqueles que demonstram dependência. E eu era agora um contraditório homem de 41 anos que passa dias e noites com a mente atormentada de tanto pensar em uma cachorra de rua!
Em algum sábado de "tempos novembrinos", quando meu sobrinho passava as férias em casa, fui ao mercado. Ao abrir a porta da frente, notei que na sala de estar a cachorra repousava sobre uma caixa de papelão forrada com o meu tapete persa. Em primeira instância, a vontade foi de mandar de volta para São Paulo aquele pirralho sem miolos! Garotinho atrevido... Mas, como disse em algumas linhas atrás, já não me sinto mais aquele João Garcia, o amargurado rude homem de Nova Granada. Passaram-se 7 dias, e o garoto, que fazia questão de tomar conta da cachorra, banhava-a. Toda vez que voltava do serviço, era recepcionado por alegres pulos. Ao invés de pão amanhecido, a cachorra alimentava-se da comida preparada para nossas refeições. O incômodo persistia, mas me sentia incapaz de reverter o quadro. Meu sobrinho, aquele garoto com quem nunca consegui trocar muito afeto, pediu, pela primeira vez, para ficar mais tempo em casa. Isso era algo a ser, no mínimo, levado em consideração.
O menino passou mais uma semana comigo, depois foi-se embora com meu irmão. Fiquei mais uns dias com a cachorra, continuei a alimentá-la. No entanto, cansei-me. Sim, dei um fim na cachorra. No jantar da noite passada, a refeição foi especial: um generoso pedaço de filé recheado com cacos de vidro. A noite, confesso, não foi das melhores. Os gritos me incomodavam. Até senti certo remorso. Mas foi só tapar os ouvidos com algodão que, ao cerrar os olhos, eu já dormia.

Giovana da Rocha

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Um dia pensei em fazer-te uma canção de amor, mas aí lembrei-me de que não sei cantar. Então pensei em jurar-te amor, mas nada feito. Posso tentar, pois sei que somente aos loucos cabe a arte de amar.
Giovana da Rocha

terça-feira, 7 de maio de 2013

Às Avessas

Todos os mesquinhos,
Aqueles que me querem mal,
Tomarão um caminho.
Eu caminhão!
Giovana da Rocha

terça-feira, 30 de abril de 2013

domingo, 28 de abril de 2013